O primeiro amor dá demasiadas alegrias mais do que a alma foi concebida para suportar. È por isso que a alegria dói – porque parece que vai acabar de repente. E o primeiro amor dói sempre de mais, sempre muito mais do que aguenta e encaixa o peito humano, porque a todo o momento se sente que acabou de acabar de repente. O primeiro amor não deixa de parte um único bocadinho de nós. Nenhuma inteligência ou atenção se consegue guardar para observa-lo. Fica tudo ocupado. O primeiro amor ocupa tudo. È inobservável. È difícil sequer reflectir sobre ele. O primeiro amor leva tudo e não deixa nada.
Diz-se que não há amor como o primeiro e é verdade. Há amores maiores, amores melhores amores mais bem pensados e apaixonadamente vividos. Há amores mais duradouros. Quase todos. Mas não há amor como o primeiro. È o único que estraga o coração e que o deixa estragado.
É como a criança que põe os dedos dentro de uma tomada eléctrica. È esse o choque, a surpresa “ Meu deus” Como pode ser!” do primeiro amor.
(….)
Não há regras para gerir o primeiro amor. Se fosse possível ser gerido, ser previsto, ser agendado, ser cuidado, não seria o primeiro. A única regra é: não pensar, não resistir, não duvidar. Como acontece em todas as tragédias, o primeiro amor sofre-se principalmente por não continuar.
Mas é por ser insustentável e irrepetível que o primeiro amor não se esquece. Parece impossível porque foi. Não deu nada do que se quis. Não levou a parte nenhuma. O primeiro amor deveria ser o primeiro a esquecer-se, mas toda a gente sabe, durante o primeiro amor ou depois, que é sempre o último."
Miguel Esteves Cardoso
estás muito muito lindo ná ná :)
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